sexta-feira, 14 de outubro de 2011

HISTÓRIA DO ROCK'N'ROLL - ANOS 60

Caso voce tenha perdido a primeira parte clique no link do lado direito da coluna. Boa leitura.



ANOS 1960


No final dos anos 1950, terminada a primeira fase do Rock'N'Roll, houve uma grande perseguição ao criador do estilo, Alan Freed, processado e condenado ao pagamento de uma multa de mais de US$ 30 mil por ter recebido pagamentos em troca da execução de determinadas músicas em seus programas e shows. Reza a lenda que as atitudes antiéticas do Sr. Freed haviam sido responsáveis pelo sucesso do Rock, que de outra forma não poderia ter atingido tamanha repercussão. Alan Freed após a divulgação deste escândalo, resolveu sair de cena para desviar a atenção do público.

Em 1963, Bob Dylan (foto) já era um astro de grande repercussão e as suas letras inteligentes chamavam a atenção do público e da crítica. Em abril fez um grande show em Nova York, e teve uma apresentação no programa de TV de Ed Sullivan cancelada em virtude do conteúdo "revolucionário" de suas letras.

Talvez a única grande novidade no início da década de 1960 tenham sido os Beach Boys, banda dirigida basicamente à comunidade de surfistas, mas que terminou por ter uma inesperada repercussão com o hit “Surfin’Usa” (um plágio descarado a Sweet Little Sixteen de Chuck Berry, por quem seriam processados em seguida).

A partir de 1965, com a banda Yardbirds (foto) (que teve uma carreira tão curta quanto influente, pois tinha entre seus membros ninguém menos que Eric Clapton, Jimmy Page e Jeff Beck) e The Who, o Rock começava a ganhar uma agressividade inédita, com guitarras mais distorcidas e muito mais amplificação.

O HARD ROCK

Em 1966, com o single “Substitute”, o The Who (foto) finalmente levava o Hard Rock pela primeira vez ao topo das paradas (em grande parte devido à repercussão do quebra-quebra generalizado promovido após os shows pela banda no palco e pelo público na platéia), enquanto Eric Clapton forma um super trio, o Cream.

As drogas não eram mais consumidas apenas para eliminar o cansaço, mas sim para buscar prazer e estados alterados de percepção. A música desta época foi fortemente influenciada por drogas como LSD, seja porque era composta sobre seu efeito ou porque era composta de maneira a simular ou tentar ampliar seus efeitos. O novo tipo de música foi chamado de “Psicodélico”.

Sobre o efeito de LSD os Beatles gravaram o que possivelmente foi o álbum mais revolucionário da história do Rock, “Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band” (foto), em 1967. Pela primeira vez uma banda de Rock rompeu o formato extremamente comercial da música Hit Single, lançando uma obra em que cada música era apenas uma parte do todo. Eles gastaram mais de 700 horas e seis meses de gravação.

Para muitos Sgt. Peppers é considerado o nascimento do Rock Progressivo e divide esta glória com um outro álbum, curiosamente gravado no mesmo estúdio e ao mesmo tempo, “The Pipers At The Gates Of Dawn”, do Pink Floyd, que havia ficado famosa pelas suas performances audiovisuais no underground londrino, liderada pelo gênio movido a LSD de Syd Barret.

Descoberto e levado para a Inglaterra pelo ex-Animals Chas Chendler, Jimi Hendrix seria uma outra grande revelação em 1967. Com seu segundo single, Purple Haze (o primeiro havia sido Hey Joe, um ano antes) Hendrix criou uma nova sonoridade, ampliando definitivamente os recursos da guitarra elétrica no Rock.
OS HIPPIES



Baseados na agressão ao Establishment e na liberdade (sexual e de experimentação) herdada do pensamento Beatnik, surgia nos Estados Unidos o movimento Hippie, concentrado principalmente em San Francisco, e tendo como fundadores bandas como: Grateful Dead, Jefferson Airplane (foto) e The Doors (com seu primeiro single, Light My Fire). São marcos da época as flores no cabelo (daí o termo Flower Power), os cabelos longos e as comunidades alternativas. O símbolo de três pontas relacionado ao lema "paz e amor" foi tomado da sinalização militar que significava "cessar bombardeio". Nada mais adequado em época de Guerra do Vietnã.

O grande evento do ano de 1967 seria o Monterey Pop Festival que reuniu Jimi Hendrix (foto à direita), The Animals, Simon and Garfunkel, Bufallo Springfield, entre outros. Foi neste festival que o mundo descobriu a eterna rainha do blues, Janis Joplin, que explodia com seus uivos e gemidos em clássicos como Mercedez Bens, Cry Baby e Summertime.

Rapidamente a música Folk e principalmente Bob Dylan seriam taxados de “comunistas” e “degenerados”, o que obviamente atraiu a atenção do público jovem e aumentou o apelo do novo estilo.

Em 1968 com o final da banda Yardbirds, Jimmy Page forma o New Yardbirds, logo renomeado para Led Zeppelin (foto à esquerda). Outra banda de Hard Rock, o Sttepenwolf, na música Born To Be Wild, inaugurava pela primeira vez o termo “Heavy Metal”. A sonoridade do Led Zeppelin era inédita e, embora muito baseada no blues, era mais agressiva do que qualquer outra música. Instrumentistas virtuosos, solos e improvisações de tempo indeterminado começavam a despontar. O Hard Rock iniciava seu período de apogeu.



WOODSTOCK E INGLATERRA



O ano de 1969 foi o ano dos grandes festivais. A morte de um fã num show dos Rolling Stones (foto à direita), durante uma apresentação gratuita no festival de Altamond, Califórnia, foi o marco negativo do ano. Mas mesmo esta má impressão não seria capaz de abafar a realização do maior evento de música de todos os tempos. Entre 15 e 17 de Agosto, o Woodstock, realizado em Bethel, Nova Iorque era interpretado por muitos como o marco do início de uma nova era de “paz e amor”, com apresentações entre outros de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jefferson Airplane e The Who. Durante o encontro Hippie, 200.000 pessoas dançaram nuas e depois foram nadar num imundo rio. Dois meninos nasceram durante a festa, três pessoas morreram e mais 5.000 foram hospitalizados por abuso de drogas.

Com bandas de músicos virtuosos como Pink Floyd (foto), Led Zepellin, Cream, Jethro Tull e Deep Purple, e os super experimentais Mothers Of Invention de Frank Zappa, associados aos trabalhos cada vez mais elaborados de bandas antigas como os Beatles e o The Who (que havia lançado a ópera Rock “Tommy”, elevando definitivamente o Rock a categoria de arte) a simplicidade característica do rock dos primeiros tempos havia sumido.
 
O ROCK BRITÂNICO

Enquanto o Rock decolava no seu país de origem, do outro lado do Atlântico, na Inglaterra, principalmente nas cidades portuárias (por terem acesso mais fácil as músicas que vinham do continente americano), crescia o interesse pelo Rock and Roll. Na cidade de Liverpool estava tomando forma um movimento cultural que tomou o nome de um fanzine musical local, “Mersey Beat”. Entre as bandas locais já se destacavam os Beatles. Os Rolling Stones se tornavam também um grande sucesso mundial com sua ida aos Estados Unidos pouco após os Beatles (a atitude irreverente dos Stones, com seus frequentes escândalos, era a antítese perfeita à educação e boa aparência dos Beatles, conquistando a parcela mais rebelde do público).

Outras bandas inglesas como Herman’s Hermits, The Kinks e The Animals (foto) também despontavam. O Rock’N’Roll foi uma invenção americana e isso é inegável. Aliás, até os gêneros musicais que deram origem ao Rock - o Country, Blues, o Gospel e o Rhythm’N’Blues - são de origem americana. Apenas daí para trás é que podemos traçar outras "nacionalidades", uma vez que a influência da música africana (cuja introdução na sociedade americana do século XX se deu graças aos escravos do sul do país, que haviam herdado, mantido e revolucionado suas tradições, mais ou menos o mesmo processo ocorrido com o Samba no Brasil, que é um ritmo brasileiro inquestionavelmente, mas oriundo da música africana herdada pelos nossos escravos) no Blues e no R & B é fortíssima.

Assim, do seu nascimento até a metade da década de 60, o Rock’N’Roll praticamente relegou sua existência aos Estados Unidos. Entretanto, havia uma cena incipiente em outros países europeus, em especial na Inglaterra, e só faltava a explosão de uma banda para que uma enxurrada de novos nomes viessem a segui-la. O primeiro artista inglês de Rock com repercussão nos Estados Unidos foi Billy Fury (foto).



THE BEATLES




E, enfim, vieram os Beatles. Se, no início, não passavam de uma cópia de Chuck Berry e Gene Vincent, ao longo dos anos foram desenvolvendo estilo e personalidade próprias, até que estouraram mundialmente em meados dos anos 60. Oriundos de Liverpool, começaram copiando os americanos e, poucos anos mais tarde, estavam fazendo muitos americanos os copiarem (o exemplo mais notório e grotesco foram os Monkees). Isso pra não falar no caminho que eles (Beatles) abriram para outras bandas inglesas, que, agora, eram a sensação e a renovação do Rock - estilo que começava, então, a tornar-se um fenômeno mundial. Além dos Beatles, vieram da Grã-Bretanha os Rolling Stones, The Searchers, The Animals, The Small Faces, The Who, The Kinks e outros menos famosos.

Tais grupos traziam mais atitude, mais rebeldia (a maior delas: os cabelos compridos e desalinhados), mais qualidade musical e, sobretudo, mais inovações do que o que vinha sendo feito paralelamente nos EUA. A juventude inglesa sofria de frustrações tão grandes - ou até maiores - quanto à americana, e isso foi de suma importância para que fossem desenvolvidas as particularidades que emergiriam do Rock Inglês. O estilo, naquele país, passaria por enormes e profundas reviravoltas ao longo de sua existência, tornando-se progressivamente mais visceral, mais pesado, mais distorcido, mais sujo, mais obsceno.

São produtos ingleses alguns dos nomes mais revolucionários do Rock em todos os tempos (e o Rock daquele país, talvez, só perca para os EUA em importância por não ter sido o criador do gênero): Beatles, Rolling Stones, Black Sabbath (inventor do Heavy Metal), Sex Pistols (foto) (consolidador do Punk Rock), Iron Maiden (salvador do Heavy Metal) e muitos outros.

Na Inglaterra, o Rock’N’Roll americano demorou a chegar devido a diversos problemas. O vazio musical que lá havia foi preenchido pela onda da Skiffle, sendo uma imitação da música rural do sul dos EUA. A partir dela surgiria à base de blues do rock britânico. As músicas americanas chegaram, então, de uma só vez. Rock’N’Roll, Calipso, Rhythm’N’Blues, Doo-Wop, Rockabilly, Country Rock, Mowtown etc… Misturados com a Skiffle, e o Folk deram origem ao que hoje é conhecido, simplesmente, como “Rock”.

O poeta Allen Ginsberg viria a proclamar mais tarde: “A poesia no sentido tradicional acabou. Ninguém se senta mais na poltrona da sala de estar para ler. O Rock é a nova poesia. É um retorno à poesia dos velhos tempos”. E o bluesman John Lee Hooker (foto), quando o Rock Britânico invadia o mundo: “Acho que os conjuntos ingleses foram responsáveis pela volta do Blues...”.

A partir daí vários grupos ingleses fizeram sucesso por todo o planeta, mas nenhum se igualou aos Beatles. O Rolling Stones foi o segundo grupo inglês de maior importância, gravando sucessos como “Satisfaction”, “Let’s Spend The Night Togheter”, “Lady Jane” e “As Tears Go By”. Grupos como The Animals, Yadbirds, The Who e Cream sempre ocuparam um grau secundário no cenário do rock britânico. Apesar de eu achar o som do The Who maior até que os Beatles.





























































domingo, 20 de setembro de 2009

BLUES E ROCK'N'ROLL - O COMEÇO DE TUDO

Parabéns! Você acaba de acessar a coluna Rock Around The Clock! A espaçonave do Rock! Seja muito bem-vindo (a)!

Neste lançamento estamos trazendo a você à história deste ritmo que nunca saiu e nunca sairá de moda. Sou o piloto desta espaçonave, meu nome é Luiz Michelin Junior, jornalista, tenho 36 anos, escrevo e estudo o Rock'N'Roll e o Blues desde os 13 anos de idade (mas a paixão começou muito antes), ritmos pelos quais sou apaixonado.

Espero que gostem e participem. Suas críticas e sugestões serão sempre muito bem-vindas!

SÉCULO XVIII - 1860

É impossível contar a história do Rock’N’Roll sem antes apresentar o Blues, seu “irmão mais velho”. Por isso, nossa história começa no século XVIII, mais precisamente em 1860:

O Blues nasceu para dar voz aos escravos do sul dos Estados Unidos. A partir de 1860, quando os negros norte-americanos começaram a frequentar a igreja cristã, os Spirituals (foto à esquerda) - canções religiosas entoadas pelos negros africanos desde sua chegada à América - sofreram uma mutação fundamental. Além de apelar para Deus, os escravos começaram a curar suas dores de amor por meio da música.

Por causa do Black Code, uma lei que proibia os escravos de tocarem tambores e flautas, e na tentativa de faze-los tocarem o Banjor (espécie de ancestral do banjo, de origem africana) e o Fiddle (foto à direita) (espécie popular de violino, de origem irlandesa) começou a surgir um estilo musical diferenciado, tocado em escala pentatônica, ou seja, em escala oriental. Nasceu então a Blue Note, que podemos chamar de "nota rasgada".

Durante o século XIX, o Blues era uma tradição passada de geração a geração. Ilegal desde 1808, o contrabando de escravos africanos para o sul dos Estados Unidos só iria crescer com a Guerra Civil Americana, ou “Guerra da Secessão”, em 1865.

A maioria dos escravos trabalhava em plantações de algodão, um serviço árduo e desgastante, onde a colheita era feita com as mãos, em frutos duros e espinhentos. Como seus patrões estipulavam uma meta de colheita diária e se não cumprissem recebiam castigos, eles acharam uma saída: os Work Songs.

Os Work Songs eram cantos, onde, enquanto trabalhavam, um dos escravos cantava um verso e os outros repetiam, trabalhando todos em sincronia, ou seja, em um mesmo "ritmo".

Os Hollers, ou "cantos solitários", surgiram depois do fim da escravidão, onde a figura do negro trabalhando sozinho na lavoura e fazendo sua música solitariamente predominou no sul dos EUA. Enquanto os Work Songs deram ritmo ao Blues, os Hollers deram liberdade de composição.

Alguns historiadores explicam que no estado do Mississipi nasceu um Blues mais alegre e ritmado. Por ser um estado banhado pelo Rio Mississipi e consequentemente muito fértil para a lavoura, a população negra era numerosa naquela região, e os Work Songs eram ouvidos em quase todas as plantações. Já no estado do Texas, nasceu um Blues mais melancólico, com menos ritmo, porém mais gritante e com uma forma de composição mais livre. A explicação desse surgimento também é histórica. O Texas, ao contrário do Mississipi, é um estado pouco fértil para a agricultura e por isso menos povoado. Então, via-se mais o negro trabalhando solitariamente, cenário perfeito para o surgimento dos Hollers.

No século XIX, a palavra "Blues" era usada para denominar, e até explicar um estado de espírito em que a pessoa (principalmente a negra) se sentia triste, angustiada, sofrida. Então para expressar esse sofrimento de amargura eles cantavam esses "Blues". Há controvérsias em sua tradução, mas as mais aceitas e conhecidas são "sofrimento ou lamento".

A REVOLUÇÃO URBANA

No final do século XIX, a alta taxa de natalidade provocada pela emancipação dos escravos proporcionou outros tipos de trabalho aos negros. Muitos deixaram o campo e partiram para a periferia das grandes cidades do sul, como Chicago, Memphis e a Região do Delta do Rio Mississipi, nos estados de Arkansas, Tennessee, Alabama, Louisiana e Mississipi, para trabalhar nas primeiras metalúrgicas e refinarias do país ou em canteiros de obras. Mas a maior parte deles foi parar nos entrepostos de algodão e tecidos.

Esse movimento em direção às cidades do sul atingiu seu pico entre a virada do século XX e o final da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). A formação de guetos foi inevitável. Neles, os negros ralavam, sofriam e também divertiam-se. A procura por prazer em prostíbulos, bares e casas de jogo tinham um ponto em comum: a música. Neste ambiente, explodiu a revolução do "Blues Urbano".

Quando conseguiam descolar instrumentos musicais, os negros tocavam o Banjor, e o Fiddle. O violão apareceria logo depois, graças à influência espanhola vinda do México. Quando não possuíam dinheiro para comprar instrumentos eles improvisavam, de forma inteligente e criativa. Chegavam a fazer de uma grande Abóbora um "violão". O processo era trabalhoso: os negros fazia uma abertura na Abóbora, parecida com a boca de um violão, através dela deixavam a planta oca e secavam ao sol, em seguida eram espetadas tarrachas de madeira na ponta superior e nela eram amarrados fios de Nylon, criando uma espécie de "violoncelo".

Outro instrumento bastante interessante e curioso era o de percussão, tratava-se de garrafas de vidro, cada uma com uma certa quantidade de água, que eram amarradas à uma trave com barbantes e tocadas com pequenas "varetas" feitas de madeira. Cada garrafa executava um tipo de som diferente de acordo com a quantidade de água do seu interior.

Os primeiros Bluesman's (cantores de Blues) profissionais formam uma categoria à parte. Incapacitados para o trabalho manual, cegos e deficientes encontravam na música seu meio de vida. Blind Lemon Jefferson (foto), Blind Willie McTell e outros tantos Blinds (deficientes visuais) começaram assim. Também nascia a tradição do músico itinerante e da vida na estrada.

Com o passar dos anos os temas musicais se tornaram os mais variados, como: paixões, amores não correspondidos, vingança, traição, tristeza, farra, bebida e mulher.

O SÉCULO XX

No início do século XX o Blues já era ouvido em todo o delta do Mississipi e em vários estados do sul. Com o advento da 1ª Guerra Mundial muitos negros migraram da zona rural do sul dos EUA para as cidades também do sul.

Na década de 20 as gravadoras descobrem o Blues e a cantora Mamie Smith grava a primeira música do estilo, intitulada "Crazy Blues". Outras cantoras também se destacaram como Gertrude Ma Rainey, Alberta Hunter, e Bessie Smith (foto) (a imperatriz do Blues).

NO ESTÚDIO (DÉCADA DE 1920)

O final da primeira guerra mundial marcou também o estouro dos gramofones - o tataravô do CD player - e a consolidação do mercado de discos. Gravadoras como Victor, Decca, Paramount e Columbia expandiram seus bem-sucedidos negócios do norte para o sul dos Estados Unidos. Os primeiros alvos eram Chicago e Nova York, principalmente no bairro do Harlem.

Não por acaso, o primeiro Blues a virar disco foi gravado em Nova York pela cantora Mamie Smith (foto à esquerda), em 1920. "Crazy Blues" superou todas as expectativas, vendendo 75 mil cópias por semana. Com o sucesso, Mamie voltou ao estúdio três vezes em três meses e virou febre.

A partir de 1921, todas as grandes gravadoras americanas passaram a ter suas "races series" (séries das raças), subdivisões que lançavam discos de músicos negros para o consumo da população dos guetos urbanos do sul.

Até a segunda Guerra Mundial, o mais importante celeiro do Blues era a região do Delta do Mississipi. Ali surgiram Bluesman's fundamentais como Charlie Patton, Tommy Johnson, Son House (foto à direita), Skip James, Big Joe Williams e o lendário Robert Johnson.

A DÉCADA DE 1930

Na década de 30 apareceram cantores como Son House, Sonny Boy Williamson, Blind Lemon Jefferson, Big Joe Williams, Bukka White, entre outros. Mas o Blues ainda continuava rural, acústico e "crú".

Na década de 40 os negros do sul migraram para as cidades industrializadas do norte. Nasceu então o "Blues Urbano de Chicago", um Blues totalmente elétrico. Aparece mais uma safra de músicos, inclusive, aqueles nascidos no Mississipi e que já faziam um certo sucesso em Memphis.

Surgem: Elmore James, Howlin Wolf, Willie Dixon, Muddy Waters, Big Bill Broonzy, Jimmy Red. Chicago ainda viu surgir Otis Rush (foto), Magic Sam, Buddy Guy, Little Water, entre outros.

A batida da música de Bo Diddley é a batida precursora do Rock que está para surgir. O cantor Elvis Presley torna o Blues um tanto popular em meio a população branca norte-americana.

Outro ritmo já popular na década de 50 é o Rhythm’N’Blues, um dos filhos do Blues. Quando esse som começa a ser ouvido pela população branca acontece uma enorme revolução muda-se o nome e surge o Rock’N’Roll.

B.B. King se torna o "embaixador do Blues" e mais tarde chega a ser denominado o "rei".

Na década de 80 aparecem Robert Cray e Stevie Ray Vaughan (foto à direita). Já na de 90 estouram os sucessos de Jonny Lang, Blues Traveler e da texana Sue Foley.

Ainda há muitos outros nomes importantes no cenário do Blues como John Lee Hooker, Etta James (hoje, considerada a rainha do Blues), Koko Taylor, Jonny Winter, Sugar Blues, James Cotton, Junior Wells, Dr. John, Carey Bell, Otis Spann, Memphis Slim, Magic Slim, Bonnie Lee, John Mayal, Champion Dupree, Mississipi John Hurt, entre outros.

No Brasil , o Blues continua criando raiz. Começou com André Cristóvão, considerado o "pai do Blues brasileiro", e Celso Blues Boy. Também Raul Seixas compôs o Blues "Canceriano Sem Lar (Clínica Tobias Blues)", Cazuza com o "Blues da Piedade" e Legião Urbana com "Música Urbana 2". Também estão na estrada o gaúcho Sólon Fishborn, as bandas: Blues Etílicos, Mister Jack, Bartenders, Velhas Virgens e muitos outros.

Há uma grande controvérsia entre os entusiastas do Blues: poderiam as pessoas que não possuem descendência afro-americana realmente tocar ou apreciar o estilo? Alguns puristas insistem em afirmar que os brancos não são verdadeiramente capazes de entender o Blues, enquanto outros argumentam que o sentimento conhecido como "Blues" vem dos problemas e dificuldades pessoais e pode ser entendido por todo o tipo de pessoa.

Muitas bandas de Rock’N’Roll citam como suas primeiras influências alguns Bluesman´s. Quando os Beatles pisaram na América, fizeram questão de se encontrarem com Muddy Waters e Bo Diddley (foto à esquerda) (e ficaram surpresos ao saberem que eles não eram tão famosos quanto esperavam). Os Rolling Stones criaram seu nome a partir de uma música de Muddy Waters e o guitarrista Keith Richards dizia, no início de sua carreira, que o desejo era direcionar o público para nomes como o de Muddy. Eric Clapton, Jeff Beck, Jimmy Page, Alvin Lee, Steve Miller, Chuck Berry e Jimi Hendrix realizaram várias homenagens aos mestres do Blues que os influenciaram.

O BLUES PSICODÉLICO

Nos Estados Unidos, outros jovens começaram a renovar a velha chama do Blues. Duanne Allman e seu irmão Gregg formam a grande Allman Brothers Band, Janis Joplin cai na estrada com o grupo Big Brother and the Holding Company, Dr. John resgatando o piano no Blues, Johnny Winter (foto) e seu irmão Edgard começaram a chamar atenção e um ex-paraquedista do exército americano leva o Blues a outras dimensões.

Além de revolucionar a guitarra elétrica, James Marshall Hendrix (vulgo Jimi Hendrix) também abriu um novo caminho para o Blues. Mas os Estados Unidos não compreenderam a sua música. Naquela altura do campeonato, só mesmo um inglês seria capaz de sacar o novo Blues de Hendrix. Logo depois de vê-lo em ação em Nova York, Chas Chandler, então baixista do Animals, convidou Jimi para ir tocar em Londres. E ele topou na hora.

Não por acaso, o maior desejo de Hendrix quando chegou a Londres era conhecer Eric Clapton. Em 1966, Clapton já havia gravado o disco de estréia do Cream, primeiro "Power Trio" da história, formado por ele, o baixista Jack Bruce e o baterista Ginger Backer. Hendrix e Clapton tinham em comum o desejo de levar a guitarra a um novo patamar, depois batizado de "Blues Psicodélico".

A partir desta fase, o estilo criado pelos escravos do sul dos Estados Unidos começou a ser um ingrediente obrigatório na receita de inúmeras bandas de Rock. De Led Zeppelin à Deep Purple, passando por The Doors, Creedence Clearwater Revival e The Who, todo mundo sofreu alguma influência do Blues. Uma célebre frase resume bem esta situação: “O Blues teve um bebê e ele ganhou o nome Rock’N’Roll”.

O final desta fase veio de forma trágica, na virada dos anos 70. Depois do final do Cream, Clapton entrou em duas roubadas que mudariam sua vida: apaixonou-se pela mulher do melhor amigo e afundou-se na heroína e no álcool. Alguns chegam a afirmar que, exatamente por estar passando por tanta dor, Clapton gravou alguns de seus melhores Blues nesta fase, como Nobody Knows When you're down and Out e Key to the Highway, ambas ao lado do grupo Derek and the Dominos (foto), com quem Clapton gravou o genial Layla and Other Assorted Love Songs.

Mas o maior golpe veio em pouco mais de um ano, com três mortes que abalariam a cena. A primeira foi a de Jimi Hendrix, encontrado morto em 18 de setembro de 1970 no apartamento de sua namorada, em Londres, sufocado pelo próprio vômito. Dias depois, em 4 de outubro, era a vez de Janis Joplin morrer depois de uma overdose de heroína. Em 29 de outrubro de 1971, Duanne Allman enfiou sua moto num caminhão. O "novo Blues" estava seriamente avariado. Isso sem contar a morte de Jim Morrison, outro grande devoto do Blues, em três de julho de 1971. Foram quatro porradas na cara do Blues, chegaram a dizer que ali ele havia morrido. Esqueceram-se de um pequeno detalhe: O Blues e o Rock'N'Roll são imortais!

FASE ADULTA

Nos anos 70, o estilo passou por uma fase diferente. Heavy Metal, Glam Rock, Punk Rock, Reggae, Disco... O mundo da música vivia uma diversidade nunca antes vista, onde quase tudo era possível e vendável. Neste cenário, o Blues foi correndo por fora, mantendo um público fiel, conquistando novos fãs a cada dia e sobrevivendo a quase todos os modismos. O Blues entrava em sua vida adulta e transformava-se numa música universal.

B.B. King e Eric Clapton tiveram importância fundamental nesta fase. Enquanto o último continuava a inserir elementos de Blues nas canções que o transformariam num dos maiores popstars do planeta, King resolveu virar o "embaixador" do estilo, fazendo shows em quase todos os cantos do mundo.

A coisa só iria mudar de fato na virada dos anos 80, quando dois novos bluesman´s americanos tiveram papel determinante. Robert Cray, um guitarrista com voz de Soulman nascido na Georgia em 1953, conquistou o respeito da crítica e de seus professores - como o grande Albert Collins (na foto de azul), com quem chegou a gravar o álbum Showdown - além de faturar as paradas de sucesso e conseguir uma boa vendagem de discos.

Mas o grande nome desta festa foi Stevie Ray Vaughan. Filho musical de Jimi Hendrix, o guitarrista de Austin, no Texas, resgatou a tradição dos verdadeiros Bluesman´s com seu estilo agressivo de tocar guitarra e levar a vida. Desde sua estréia em 1982 (com o fundamental Texas Flood) Stevie conquistou milhões de novos fãs para o Blues e foi responsável pela formação de uma nova leva de guitarristas em todo o planeta. O cara era um animal, transformava-se quando estava com uma guitarra na mão.

Mas, infelizmente, lembrando a velha tradição dos Bluesman’s, ele se envolveu pesadamente com drogas e álcool, conseguindo reabilitar-se apenas na segunda metade dos anos 80. Mas o destino não quis que Stevie ficasse por aqui por muito tempo. Logo depois de lançar o genial In Step e de gravar o emocionante Family Style com seu irmão Jimmy Vaughan, o guitarrista morreu em um acidente de helicóptero. Seu trabalho ajudou a abrir espaço para outros artistas que pintaram nos anos 80, como Kim Wilson (que tocava com Jimmy Vaughan nos Fabulous Thunderbirds), Steve James e Doyle Bramhall.

Bem, essa é uma breve história do Blues, cuja palavra não quer denominar apenas um gênero musical, mas também um estado de espírito, uma história de sofrimento, um lamento posto pra fora. Dizia um Bluesman: “O blues é um homem bom, sentindo-se mal, por causa da mulher que um dia teve”.

O Blues é isso aí, simples mas tocante! E é com essa simplicidade que ele atravessou gerações, sofreu algumas mutações, e deixou de ser uma música folclórica e regional para se tornar popular no mundo inteiro. Alguns críticos mais fervorosos (como eu, rsssss...) costumam dizer que o Blues não se escuta e sim se sente!

Mas vamos ao destino principal desta coluna: o ROCK´N´ROLL!

Podemos dizer que o Rock é um "Blues acelerado". Pois dele, do Country Western e, acreditem, da música Gospel americana, surgiu o Rock’N’Roll, uma mistura explosiva dessas três vertentes que viria a mudar o mundo para sempre. E, a partir daí, ele nunca mais seria o mesmo!

ROCK’N’ROLL - O INÍCIO

Quando o mundo aplaudia o fim da Segunda Guerra Mundial e se adaptava à paz, um movimento jovem estava prestes a se formar.

Nos EUA, o cenário pós-guerra era preocupante. Mais do que nunca passaram a ser um país consumista, até pelo fato de tudo que era desenvolvido antes para a guerra estava agora sendo usado para o bem-estar do lar.

O clima da guerra fria preocupava a juventude. Havia jovens consumistas, defensores do capitalismo ou do socialismo, os anarquistas e os que não eram nada. Então, no cinema surgia uma das influências do Rock'N'Roll. Filmes que mostravam motoqueiros invadindo cidades, rapazes delinquentes homicidas, eram baseados na sociedade alienada da época. Já haviam surgido os primeiros “rebeldes sem causa” e os filmes os mostravam de acordo com a visão do cineasta. Os astros maiores eram James Dean e Marlon Brando (foto), que se vestiam com jaquetas de couro e já usavam topetes.

O Rock não surgiu do nada, era, basicamente, a fusão de correntes musicais que vinham evoluindo ao longo de vários anos, tendo como principal componente o Blues. Foram os negros, escravos nas plantações de algodão dos Estados Unidos, que criaram a base do que seria o Rock. Suas músicas melódicas, como o Gospel, que eles cantavam em seus cultos religiosos, deram início ao Blues. Mais tarde misturado aos ritmos dançantes dos brancos, como o Country & Western, por exemplo - um ritmo surgido da fusão da música dos brancos pobres das áreas rurais, e da música de vaqueiros (que era marginalizada) – criaram o Rhythm'N'Blues. Foi esse ritmo que divulgou a música negra para um número maior de pessoas, dando início ao que viria a ser o todo-poderoso ROCK'N'ROLL.

Em 1954, data que se tem como a criação oficial do Rock'N'Roll, Allan Freed, um disk-jokey norte-americano, de Cleveland, Ohio, teve a idéia de "acelerar" um pouco mais o Rhythm'N'Blues, sendo o inventor da expressão "Rock'N'Roll" para designar o novo gênero de música que surgia. Inclusive os direitos autorais dessa expressão ainda pertencem à sua família, pois infelizmente ele já embarcou para uma tournée com a Janis Joplin (he he).

AS ORIGENS DO TERMO "ROCK'N'ROLL"

Esta história começa um pouco antes em 1951, em Cleveland, Ohio, o DJ Alan Freed começou a tocar Rhythm'N'Blues para uma audiência multi-racial. Freed é creditado como o primeiro a utilizar a expressão "Rock and Roll" para descrever a música. No entanto, o termo já tinha sido introduzido ao público dos EUA, especialmente na letras de muitas gravações de Rhythm and Blues. Três diferentes canções com o título "Rock and Roll" foram gravadas no final dos anos 1940: uma em 1947 por Paul Bascomb, outra por Wild Bill Moore, em 1948, e ainda outra em 1949 por Doles Dickens, e a expressão estava em constante uso nas letras de canções de R&B da época. Um outro registo onde a frase foi repetida durante toda a canção foi em Rock and Roll Blues, gravado em 1949 por Erline "Rock and Roll" Harris.

A expressão foi também incluída nos anúncios para o filme Wabash Avenue, estrelado por Betty Grable e Victor Mature. Uma propaganda para o filme que circulou em 12 de abril de 1950 anunciou Ms. Grable como "The First Lady of Rock and Roll" e Wabash Avenue como "The Roaring Street She Rocked to Fame".

Até então, a frase Rocking and Rolling (balançar e rolar), conforme uma gíria laica negra para dançar ou fazer sexo, apareceu em gravações pela primeira vez em 1922, na canção My Man Rocks Me Com Um Steady Roll, de Trixie Smith (foto). Mesmo antes, em 1916, o termo Rocking and Rolling foi usado com uma conotação religiosa, no registro fonográfico de The Camp Meeting Jubilee, gravado por um quarteto masculino desconhecido.

A palavra "Rock" teve uma longa história no idioma americano como uma metáfora para To Shake Up, To Disturb or To Incite (sacudir, perturbar ou incitar). Em 1937, Chick Webb e Ella Fitzgerald gravaram Rock It for Me, que incluía na letra o verso So won't you satisfy my soul with the Rock and Roll. (Então, você não vai satisfazer a minha alma com o Rock and Roll?). Rocking era um termo usado por cantores negros do Gospel no Sul dos Estados Unidos para dizer algo semelhante ao êxtase espiritual. Pela década de 1940, no entanto, o termo foi usado como um duplo sentido, referindo-se pretensamente a dançar, mas também com o significado implícito de sexo, como em Good Rocking Tonight, de Roy Brown.

O verbo Roll era uma metáfora medieval que significava ter relações sexuais. Durante centenas de anos, escritores têm utilizado expressões como They had a roll in the hay ou I rolled her in the clover. Os termos eram muitas vezes utilizados em conjunto (Rocking and Rolling) para descrever o movimento de um navio no mar, por exemplo, como na canção Rock and Roll, das Irmãs Boswell, em 1934, que apareceu no filme Transatlantic Merry-Go-Round (literalmente, Transatlântico Carrossel), naquele mesmo ano, e na canção Rockin Rollin Mama, de Buddy Jones, em 1939. O cantor Country Tommy Scott se referia ao movimento de um trem na ferrovia em Rockin and Rollin, de 1951.

Uma versão alternativa, é a alegação de que as origens de Rocking and Rolling remontam aos trabalhadores que trabalhavam nas ferrovias Reconstruction South. Esses homens cantariam canções na batida do martelo para manter o ritmo do seu instrumento de trabalho. Ao final de cada linha em uma canção, os homens balançariam seus martelos para baixo para furar um buraco na rocha. Os Shakers - homens que ocupavam as pontas de aço perfuradas pelo martelo humano - balançariam o prego para frente e para trás para limpar a pedra ou rolar, girando o prego para melhorar a "mordida" da broca.

Durante a guerra do Vietnã, o termo "Rock and Roll" se referia ao disparo com uma arma automática (geralmente o fuzil M-16), empunhando a arma no quadril como uma guitarra. Era muitas vezes utilizado o termo Let's Rock and Roll.

O ILUSTRE CRIADOR DO GÊNERO

Alan Freed (foto), também conhecido como Moondog, é creditado como o primeiro a utilizar a expressão Rock and Roll para descrever a música Rhythm and Blues tocada para uma audiência multi-racial. Enquanto trabalhava como DJ na estação de rádio WJW, em Cleveland, ele também organizou o primeiro grande concerto de Rock'N'Roll, o Moondog Coronation Ball, em 21 de março de 1952.

O evento era na verdade um conjunto de cinco espetáculos apresentados em Cleveland. Já no primeiro show, a procura por ingresso foi enorme e o concerto teve de ser encerrado devido à superlotação. Posteriormente, Freed organizou muitos concertos de Rock and Roll marcados pela presença tanto de brancos quanto de negros, contribuindo ainda mais para introduzir estilos musicais afro-americanos para um público mais vasto.

TENSÕES RACIAIS

O Rock surgiu em uma época em que as tensões raciais nos Estados Unidos estavam próximos de vir à tona. Os negros norte-americanos protestavam contra a segregação de escolas e instalações públicas. A doutrina racista Separate But Equal foi nominalmente derrubada pela Suprema Corte em 1954, mas a difícil tarefa de fazer respeitar a decisão estava por vir. Este novo gênero musical combinando elementos das músicas branca e negra inevitavelmente provocou fortes reações.

Depois do The Moondog Coronation Ball, as gravadoras logo compreenderam que havia mercado formado pelo público branco para a música negra que estava além das fronteiras estilísticas do Rhythm and Blues. Mesmo o preconceito considerável e as barreiras raciais não podiam barrar as forças do mercado. O Rock'N'Roll tornou-se um sucesso de um dia para outro nos EUA, fazendo ondulações do outro lado do Oceano Atlântico e, talvez, culminando em 1964 com a "Invasão Britânica" (como veremos à seguir).

Os efeitos sociais do Rock foram massivos mundialmente, influenciaram estilos de vida, moda, atitudes e linguagem. Além disso, o Rock and Roll pode ter ajudado a causa do movimento dos direitos civis, porque tanto os jovens norte-americanos brancos como os negros adoravam o gênero, que ainda derivou muitos estilos musicais, Progressivo, Punk, Heavy Metal e Alternativo são apenas alguns dos gêneros que surgiram na esteira diante do Rock'N'Roll.

ANOS 1950

Enquanto os adolescentes adoravam o novo ritmo, adultos conservadores consideravam o Rock'N'Roll a causa da delinquência juvenil, uma coisa criada pelo demônio. Os protestantes do sul dos Estados Unidos e os católicos mais fervorosos resistiram enquanto puderam a nova onda que se formava, criando longas discussões na mídia.

O novo gênero foi gravado pela primeira vez pelo cantor e guitarrista Bill Haley com a música Shake Rattle and Roll.

Um filme se diferenciou dos outros: "Sementes de Violência", de 1955 que “expõe de modo didático toda a carga de hostilidade no relacionamento da juventude marginalizada com o Sistema”, segundo o escritor Roberto Muggiati. A música tema do filme é Rock Around The Clock, o primeiro grande sucesso do Rock, que surge como um grito de guerra para os jovens, lhes dando um lugar para apoiar. Nesse filme, alunos quebram toda a coleção de discos de Jazz de um professor. Os atores – Marlon Brando, Lee Marvin, James Dean, Denis Hopper, Sal Mineo e Vic Morrow – ofereciam um modelo visual e ideológico para aquela geração. Jovens de todo o mundo passaram a imitá-los, tendo o mesmo corte de cabelo e se vestindo da mesma maneira.

Mas assistir a um filme é bem diferente de ouvir uma música. Uma música não tem limites, pode ser ouvida milhões de vezes e demora muito menos que assistir a um filme. Por isso a música teria muito mais impacto!

Assim, Rock Around The Clock chegou ao primeiro lugar nas paradas de sucessos americanas, na gravação de Bill Haley and His Comets (foto), e ficou por oito semanas consecutivas como o mais vendido.

COMO ESSA HISTÓRIA CONTINUA?

Em 1956, um caipira do Mississipi, chamado Elvis Aaron Presley (foto) adentrou a gravadora Sun Records em Memphis, para gravar um compacto que seria dado de presente para sua mãe. O resultado? O doido acabou saindo como o "Rei do Rock" e colocando oito discos no topo das paradas: Heartbreak Hotel / I Was The One / I Want You, I Need You, I Love You / My Baby Left Me / Hound Dog / Don’t Be Cruel / Love Me Tender / Any Way You Want Me.

A partir daí, o Rock se tornava, de todos os tipos de música, o mais assíduo frequentador das paradas de sucessos até hoje e o mundo nunca mais seria o mesmo.

O fato é que Bill Haley era muito velho e gordo, além de pouco criativo para resistir às novas exigências. Chuck Berry e Little Richard eram negros, em uma sociedade extremamente racista. Elvis era um símbolo sexual, devidamente municiado pelos melhores autores e que, "cantando e suando como um negro", poderia transformar o Rock, que era um modismo, numa verdadeira revolução.

As canções de Rock’N’Roll traziam para o público a própria realidade física da época: ruas cheias de carros, pessoas se amando, se odiando, sapatos pisando no asfalto, hotéis, lanchonetes, bombas de gasolina. Segundo Roberto Muggiati, “Suas letras falavam de problemas que os jovens sofriam na carne: como é chato ser adolescente, os adultos não sacam nada, as relações humanas são cheias de grilos, espinha na cara é um atraso de vida, bom é dirigir um carrão a toda velocidade, mas a melhor coisa que existe no mundo é mesmo o Rock’N’Roll”.

O Rock inicial, apesar de chocar os padrões da época, não era engajado. Entre seus temas principais figuravam convites à dança e ao amor, descrição de carros e garotas, histórias de colégio e dramas da adolescência, incitações ao movimento e louvações à própria música. Até onomatopéias marcavam presença nas músicas. Quem não conhece o “grito de guerra do Rock”? A WOP BOP ALU BOP A WOP BAM BUM!

Assim o Rock’N’Roll decolava, criando diversos ídolos tais como: Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly, os Everly Brothers, Little Richard (foto), Fats Domino, entre outros. Foi acusado de incitar à desordem e anarquia, o que passou a ser tema de vários filmes da época. Entretanto, no final dos anos 1950, o Rock parecia pousar, ou ainda, sofrer uma queda fatal. Elvis Presley foi servir o exército na Alemanha, Chuck Berry estava preso, três grandes ídolos do Rock morreram num acidente de avião (Buddy Holly, Big Booper e Ritchie Valens). Mas não, o Rock estava somente dando um tempo para voltar com todo “gás”.

IDOS DE 1960

No início dos anos 1960 uma nova música surgia: o Folk Song. Na verdade não era uma nova música, era apenas uma adaptação aos novos tempos. O Folk Song era baseado em formas poéticas e musicais muito antigas, uma canção folclórica de cunho social. Misturado com o Blues, fez algum sucesso nos anos 1930, mas desapareceu depois que alguns de seus cantores foram denunciados por relatórios como sendo agentes de Moscou.

O Folk renasceu no final dos anos 1950 com músicos desconhecidos, e ainda não era chamada "canção de protesto". Mas em 1959, a Nova Iorquina Joan Baez (foto) , filha de um médico mexicano, se tornava a sensação do Festival Folk de Newport. Três anos depois, aos 21 anos, Joan tinha três álbuns nas paradas (mais do que Frank Sinatra).

Surgia assim uma nova juventude rebelde, mas rebeldes com causas, como por exemplo lutar pelos direitos civis. Num cenário em que quase ocorreu um holocausto nuclear depois que os EUA tentaram invadir Cuba, Kruschev explodiu uma bomba nuclear 2.500 vezes mais devastadora que a que destruiu Hiroshima e os EUA se envolviam nos conflitos do Sudeste da Ásia, surgia a canção de protesto, como um desenvolvimento da onda Folk.

A onda Folk que, embora engajada, se limitava a recolher temas do cancioneiro tradicional que se aproximassem das situações da época, agora surgia com Joan Baez e Bob Dylan, autor de letras extremamente atuais que revolucionariam a música. Músicas como Masters of War eram denúncias do militarismo e da corrida nuclear que assombrava os jovens da época. Essa nova onda que surgira era uma música mais voltada aos sentimentos e a consciência de um público menos alienado.

Nas próximas edições a coluna Rock Around The Clock trará o restante da história do Rock'N'Roll, os anos 60, 70 (e a invasão do Rock Britânico), 80, 90 e 2000 não percam! Um abraço e vida longa a nós, para sempre ouvirmos Rock’N’Roll.

ROCK’N’ROLL FOREVER GALERA!